Qual é a parte que me sustenta?
Das partes que me compartimentam,
Das peças que me constituem,
De meus defeitos e qualidades,
Trejeitos e identidades,
Sou um tosco resumo.
Sou um rascunho.
Às vezes, apareço.
Às vezes, sumo.
Sou um edifício inteiro,
Construído por delírios;
Um trem fora dos trilhos,
Flor nascida em janeiro,
E, agora, quase murcha,
Sob os pés de cegos andarilhos,
Esquecida num velho canteiro.
Tudo que posso ser
Posso ser leve orvalho
Ou tenebrosa nevasca;
Posso ser semente
Ou ser a própria casca;
Posso ser o pedaço ou a lasca,
Havaí ou Alaska.
Posso ser o novo ou o velho,
O suspense e o mistério,
O suspiro da vida,
O destino, a sorte,
Ou o vento que sopra do norte,
Mas sou a centelha divina
Que transcende a morte.
Você
Em se tratando de você,
Haverá sempre o desejo latente,
O arrepio quente,
O beijo suspenso,
A medida exata do contrassenso.
Em se tratando de você,
Haverá sempre a memória
Das noites estreladas,
Das pernas entrelaçadas.
Haverá sempre a espera
Do que poderia ser
Mas, já era.
Em se tratando de você,
Haverá sempre o dano e o nexo causal
Portanto, não façamos planos,
Deixemos tudo ao acaso,
Nesse encontro casual.